A difícil situação dos cristãos no Iraque não começou em 2014, quando o Estado Islâmico passou a dominar parte do território. Em lugares como Mosul, os jihadistas impunham aos não muçulmanos a escolha de morrer, se converter ou fugir da cidade.
O fato é que as coisas já vinham ficando difíceis muitos anos antes. O regime Baathista de Saddam Hussein, apesar de todos os seus horríveis defeitos, era relativamente secularizado e o vice-presidente, Tariq Aziz, era um cristão.
Entre os ataques às Torres Gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001 e a invasão do Iraque pelos Estado Unidos, em 2003, Saddam agiu barbaramente contra seu próprio povo.
Segundo lembra William, que trabalha numa ONG parceira da missão Portas Abertas e cujo nome verdadeiro foi mudado por razões de segurança, o Iraque ocupa hoje o 8º lugar no ranking anual de perseguição aos cristãos.
Para pessoas como William, que viveram sob Saddam, ainda ecoam as ameaças de serem atacados com armas químicas, como o que ocorre agora na Síria. “Tivemos que nos preparar como todos os outros para o possível ataque químico. A expectativa era de que Saddam atacasse com gás”, lembra. Ele acredita que Saddam tinha, de fato, as armas de destruição em massa, argumento usado pelos EUA para a invasão, e que muita coisa não foi revelada.
Saddam não era bom para os cristãos
Também questiona as informações divulgadas no Ocidente de que o regime de Saddam Hussein era “bom para os cristãos”. Conta ainda que antes de Saddam, no início dos anos 1970, havia cerca de 2 milhões de cristãos no país. Esse número havia caído drasticamente, para cerca de meio milhão, em 2003. Hoje restaram apenas 200 mil.
“Sob o governo de Saddam, muitas igrejas foram destruídas e fechadas. Se você ficasse com a boca fechada, tudo bem, mas forças do governo estavam expulsando os cristãos das aldeias”, assegura. “Os cristãos não viveram um bom momento depois da guerra”, diz ele. “Houve um tempo relativamente pacífico durante alguns anos, depois a insurgência dos extremistas começou. Foi entre 2006 e 2007 que os jihadistas tomaram o controle”.
William insiste que “Desde 2007 os cristãos começaram a ser mortos aleatoriamente, sequestrados, torturados e assim por diante. Mosul tornou-se um lugar muito perigoso para os cristãos, que começaram a sair da cidade por que estavam sendo ameaçados constantemente”. A opção naquela época era mudar para cidades curdas, onde não havia perseguição religiosa.
Estado Islâmico não acabou
O ano de 2014 marcou uma profunda mudança. Cerca de 80.000 refugiados cristãos fugiram de Mosul e da planície de Nínive sob ameaça de conversão forçada ou execução, o Isis havia chegado ali e controlava a cidade. Primeiramente, diziam que os cristãos podiam ficar enquanto pagassem o imposto islâmico e se mantivessem calados. Mas dentro de pouco tempo começaram as execuções daqueles que não aceitavam se converter ao islamismo.
Apesar dos relatórios de forças ocidentais sobre o fim do Estado Islâmico no Iraque, William diz que não é bem assim. Eles perderam o controle territorial, mas seus soldados estão espalhados pelo país, muitos integrando outros grupos radicais menos conhecidos.
“A batalha foi vencida, mas não a guerra”, diz ele, acrescentando que existem pelo menos quatro “grupos islâmicos ainda mais horripilantes” que surgiram no vácuo deixado pelo Estado Islâmico, com cerca de 2.500 combatentes “ex-EI” entre eles.
Os cristãos que foram para as regiões curdas agora enfrentam um novo problema, com a chegada de tropas turcas no norte da Síria e que se dirigem para a fronteira com o Iraque. Ao mesmo tempo, Bagdá está boicotando a região curda e querem retomar o território da província semiautônoma do Curdistão.
“Inicialmente, os cristãos iraquianos queriam voltar para sua terra natal, mas se sentem ameaçados pelos xiitas, que estão muito mais radicais desde quando eles saíram”, aponta William.
Ele continua: “Os cristãos estão sendo empurrados de volta para uma área onde não há nada. É muito difícil viver em uma rua onde as casas dos vizinhos foram queimadas e você está vivendo sozinho. Não é uma situação estável – há aldeias muçulmanas por toda parte. As pessoas não estão se sentindo seguras”.
Grupos como a Portas Abertas e seus parceiros estão apoiando as pessoas a voltarem, ajudando-as em suas necessidades, “para que haja um grupo forte de cristãos que realmente queira se recuperar”, conta William. “Eu realmente queria ser otimista, mas se ouvirmos os líderes da igreja local, a grande preocupação deles é que daqui a cinco anos poderá não haver mais cristãos no Iraque”.
Com
informações Christian Today
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