Despesas da Petrobras com Pasadena já chegam a US$ 1,93 bilhão
Graça Foster. “Em janeiro e fevereiro, (Pasadena) deu resultado líquido positivo”, destacou a presidente da estatal
O gasto da Petrobras com a refinaria de Pasadena, no Texas, chega a US$ 1,934 bilhão, se somados todos os valores mencionados por gestores da estatal em apresentações internas obtidas pelo ‘Globo’. O montante equivale ao custo da compra do empreendimento, de US$ 1,249 bilhão, mais as despesas para manter o refino de petróleo numa unidade sucateada.
Em setembro de 2008, numa exposição de dados confidenciais à diretoria executiva da empresa, técnicos informaram que os gastos com a refinaria, até novembro daquele ano, somavam US$ 650 milhões, incluído o montante desembolsado para a compra dos primeiros 50% do empreendimento, de US$ 343 milhões. A segunda metade, depois de uma longa disputa judicial, saiu por US$ 820,5 milhões.
Mais US$ 275 milhões deveriam ser gastos em “sustentabilidade”, entre 2009 e 2013, “qualquer que seja o cenário de continuidade da refinaria”, conforme uma apresentação elaborada pela Petrobras America, subsidiária da estatal. O total de gastos atingiria, portanto, pelo menos US$ 1,74 bilhão. No entanto, dados repassados ao ‘Globo’ pela própria Petrobras revelam que a conta total com a compra de Pasadena – que a estatal já admite ter sido um mau negócio – chega a US$ 1,934 bilhão.
A conclusão da compra da refinaria no Texas ocorreu após o fim da sociedade com a companhia belga Astra Oil. O valor final, de US$ 1,25 bilhão, passou a ser investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria Geral da União (CGU). O que os novos documentos revelam são a continuidade e a extensão desses gastos, em razão das péssimas condições da refinaria adquirida pela estatal.
Segurança e meio ambiente
Além de US$ 1,2 bi para comprar a refinaria, estatal precisou investir para manter refino na unidade
Durante todo o processo de aquisição e após a compra definitiva, em 2012, a empresa precisou continuar a fazer vultosos desembolsos em equipamentos de segurança, proteção do meio ambiente, melhoria da confiabilidade, paradas programadas do refino e adequação às normas norte-americanas. Conforme as apresentações elaboradas pela cúpula da estatal, esses gastos chegariam a quase US$ 500 milhões até 2013.
Os registros contábeis da refinaria, conforme dados levantados pela estatal em abril de 2013, mostram um valor de mercado bem inferior ao desembolsado para a compra. Um relatório diz que o “valor contábil de livro” em novembro de 2012 – ano do fim do litígio – era de US$ 573 milhões, enquanto o “valor presente líquido” da refinaria era ainda mais baixo, de US$ 352 milhões.
O ‘Globo’ consultou a vice-presidente técnica do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Verônica Souto Maior, sobre o significado desses registros contábeis. O “valor contábil de livro” é o valor de Pasadena registrado na estatal – quanto a aquisição custou à empresa, conforme os registros contábeis. Trata-se, portanto, de menos da metade dos gastos totais feitos para comprar a refinaria. Um mau negócio, como admitiu a presidente da Petrobras, Graça Foster.
Já o “valor presente líquido” leva em conta as projeções de fluxo de caixa para os próximos 25 anos, segundo Verônica. Para trazer esse valor para o presente, a contabilidade faz um teste, chamado de “impairment”. As perdas da refinaria de Pasadena, por conta desse teste, somavam US$ 221 milhões, o que resulta num valor real do empreendimento de US$ 352 milhões, segundo os dados da estatal de abril de 2013.
Os números não batem com os apresentados por Graça Foster em depoimento no Senado no último dia 15. Segundo a presidente da Petrobras, o teste de “impairment” levou a uma perda de US$ 530 milhões no valor de Pasadena.
Boa parte da queda do valor presente de Pasadena se deve ao recuo do preço do petróleo e, por consequência, das margens de lucro das refinarias a partir de setembro de 2008, quando teve início a crise internacional. O preço do barril do petróleo despencou de um nível de mais de US$ 140 o barril para pouco mais de US$ 30, tendo voltado a valer mais de US$ 100 só três anos depois.
A apresentação da Petrobras America, de 2009, aponta que, “sob a ótica das margens projetadas pela Petrobras, só seria possível garantir a reversão do resultado operacional negativo a partir de 2013, após os investimentos requeridos (de US$ 275 milhões)”.
Dados de auditoria contábil obtidos pelo ‘Globo’ revelam que, de fato, a refinaria apresentou retorno líquido positivo nos anos de 2009 e 2010, mas houve prejuízo de quase US$ 100 milhões entre 2011 e 2012.
Segundo a apresentação de Graça Foster no Senado, a refinaria voltou a apresentar lucro nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, num total de US$ 58 milhões, período no qual Pasadena voltou a refinar 100 mil barris por dia.
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Fonte: O Globo